Mesmo acostumados com períodos de cheias, a rotina dos moradores da Praia do Paquetá, área ribeirinha de Canoas, voltou a ser de incerteza. As águas do Rio dos Sinos que seguem avançando desde o final da semana passada deixaram ao população local ilhada sem acesso por terra.
A estrada da Prainha, que dá acesso ao bairro, foi tomada pelo rio, obrigando os moradores a recorrer a barcos para sair, ou permanecer em casa aguardando a baixa do nível.
O pescador Nelson Tadeu dos Santos, de 55 anos, resume a angústia de quem já perdeu tudo duas vezes, nas enchentes de 2023 e 2024. “Hoje a água chegou até o último degrau da escada, sendo que minha casa fica a 2,20 metros do chão. Se subir mais, eu vou pegar o barco e sair, nem que eu deixe estragar o que tem dentro”, conta.
Segundo Santos, ao contrário do ano passado, a elevação ocorreu mais lentamente neste ano, o que permitiu à comunidade uma organização maior. “Dessa vez as pessoas conseguiram tirar as coisas nas residências atingidas. No meu caso, o problema é se vier o vento Sul, daí vai subir mais e entrar em casa. Só quero que Deus olhe por nós”, afirma.
Mesmo com o risco constante, ele garante que os ribeirinhos preferem permanecer na região, vigiando o pouco que conseguem salvar nas moradias. “A maioria já levantou as casas, mas a água ainda entra em muitas. A gente não sai. Não tem como abandonar, porque tem gente que entra para roubar qualquer coisa que tenha ficado. E é nossa vida aqui”, diz.
O pescador conta que a cheia avançou nos últimos dias e, durante o todo final de semana, o acesso ficou ainda mais complicado. “Até quinta-feira ainda passava carro na rua. Agora não passa mais nada. Ficamos cercados pela água”, lamenta.
A Prefeitura de Canoas informou que a Defesa Civil, contando com a ação integrada entre diversas secretarias, dá o suporte aos moradores do balneário. Entre as ações voltadas a quem optou por permanecer no local, ocorreram entregas de cestas básicas e suporte com acolhimento a famílias atingidas, além de resgate de pets encontrados na região. Na localidade vivem 120 famílias, das quais 100 optaram por permanecer nas suas casas.
Em outro ponto de Canoas, no limite com Porto Alegre, o Rio Gravataí também apresenta elevação. No terminal da Petrobrás, a água já invade trechos do pátio e passa por acessos internos da refinaria.
Ao lado da estatal, na rua Henrique Luis Roesler, ao menos duas fábricas foram atingidas pelas águas, conforme informou a Defesa Civil municipal. O monitoramento segue constante, com alerta para eventuais novas elevações nos próximos dias.
Fonte: Correio do Povo